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Os testes para o novo kit incluem análises no banco de
soro da Fiocruz, no Rio de Janeiro
(Foto: Peter Illiciev / Fiocruz) |
A prevenção contra a dengue está hoje restrita a cuidados
como limpeza e saneamento urbanos. Campanhas educativas e ações pontuais como o
fumacê, no entanto, não impediram que quase 300 mil casos da doença fossem
registrados no Brasil, somente neste ano. A boa notícia é que grupos de
cientistas mundo afora tentam encontrar uma supervacina para imunizar adultos e
crianças contra os quatro tipos de vírus da dengue. Uma delas já está em fase
de testes clínicos.
No Brasil, uma descoberta do laboratório francês Sanofi
Pasteur, divisão de vacinas do grupo Sanofi Aventis, já vem sendo testada
simultaneamente em voluntários de Campo Grande (MS), Vitória (ES), Natal (RN),
Fortaleza (CE) e Goiânia (GO).
A vacina é feita com o vírus vivo atenuado. Os pesquisadores
usaram material genético do vírus da vacina utilizada atualmente contra a febre
amarela, muito semelhante ao do vírus da dengue, e incluíram pedaços dos quatro
tipos de vírus da dengue já identificados.
Segundo o médico e pesquisador associado da Unidade de
Pesquisas Clínicas (Ibimed) da Universidade Federal do Ceará, Luís Carlos Rey,
trata-se de uma combinação que protege, mas não causa a doença. “O vírus da
febre amarela foi geneticamente manipulado. Ele não é inativo, mas também não
expressa antígenos da doença”, explica o especialista, professor adjunto de
pediatria do Departamento de Saúde Materno-Infantil da universidade.
A vacina é ministrada em três doses, com seis meses de
intervalo entre uma e outra, e os voluntários – cerca de 900 alunos da rede
pública de ensino na faixa de 9 a 16 anos – tomaram apenas a primeira delas. Luís
Carlos Rey lembra que essa fase da pesquisa foi devidamente autorizada pelo
Ministério da Saúde e que os pais permitiram os testes.
Se tudo correr bem, até 2014 o laboratório espera submeter
os resultados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e registrar o
medicamento para, no ano seguinte, poder fazer a vacinação em larga escala.
Para ser aprovada, a vacina deve se mostrar eficaz em pelo menos 70% dos casos.
“Todos os voluntários são monitorados semanalmente para
conferirmos a eficácia clínica do medicamento. Estamos vigilantes”, observa o
pesquisador brasileiro.
Os mesmos testes dessa fase, chamada estudo de segurança,
são feitos em pelo menos outros dez países tropicais, onde a incidência de
dengue é alta.
De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde de Campo
Grande (que recebeu 500 doses da vacina desenvolvida pelo laboratório francês),
Márcia Fabbro, uma equipe composta por oito médicos fica à disposição dos
voluntários no Hospital Universitário da cidade, caso eles precisem de
orientações ou apresentem sintomas desagradáveis.
“Só em 2010 tivemos quase 83 mil notificações da doença,
sendo que 56 mil foram confirmadas. Este ano, a dengue já atingiu 14 mil
pessoas e quatro morreram no Estado. A fase de testes dessa vacina é uma porta
que se abre para a esperança”, disse Márcia.
O Brasil também tenta produzir uma supervacina contra a
dengue. Desde 1998, o Laboratório de Infecções Virais do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) pesquisa um medicamento a partir de material genético do vírus,
com o objetivo de produzir proteínas para proteger o organismo contra a dengue.
Entre as dificuldades, e não somente para os pesquisadores
brasileiros, o fato de a doença ser causada por quatro tipos de vírus, o que
requer eficácia contra todos eles para que sejam evitadas complicações como a
forma hemorrágica da doença, em caso de infecção reincidente.
Outro complicador é que nenhum animal, além do homem,
desenvolve os sintomas da doença, o que dificulta os testes clínicos
obrigatórios em animais antes de a vacina ser aprovada para uso em humanos.
A expectativa da Fiocruz, que trabalha em parceria com o
laboratório Glaxo SmithKline, é colocar o medicamento no mercado em cinco anos.