segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Pesquisadores buscam supervacina contra a dengue


Os testes para o novo kit incluem análises no banco de
soro da Fiocruz, no Rio de Janeiro
(Foto: Peter Illiciev / Fiocruz) 
A prevenção contra a dengue está hoje restrita a cuidados como limpeza e saneamento urbanos. Campanhas educativas e ações pontuais como o fumacê, no entanto, não impediram que quase 300 mil casos da doença fossem registrados no Brasil, somente neste ano. A boa notícia é que grupos de cientistas mundo afora tentam encontrar uma supervacina para imunizar adultos e crianças contra os quatro tipos de vírus da dengue. Uma delas já está em fase de testes clínicos.
No Brasil, uma descoberta do laboratório francês Sanofi Pasteur, divisão de vacinas do grupo Sanofi Aventis, já vem sendo testada simultaneamente em voluntários de Campo Grande (MS), Vitória (ES), Natal (RN), Fortaleza (CE) e Goiânia (GO).
A vacina é feita com o vírus vivo atenuado. Os pesquisadores usaram material genético do vírus da vacina utilizada atualmente contra a febre amarela, muito semelhante ao do vírus da dengue, e incluíram pedaços dos quatro tipos de vírus da dengue já identificados.
Segundo o médico e pesquisador associado da Unidade de Pesquisas Clínicas (Ibimed) da Universidade Federal do Ceará, Luís Carlos Rey, trata-se de uma combinação que protege, mas não causa a doença. “O vírus da febre amarela foi geneticamente manipulado. Ele não é inativo, mas também não expressa antígenos da doença”, explica o especialista, professor adjunto de pediatria do Departamento de Saúde Materno-Infantil da universidade.
A vacina é ministrada em três doses, com seis meses de intervalo entre uma e outra, e os voluntários – cerca de 900 alunos da rede pública de ensino na faixa de 9 a 16 anos – tomaram apenas a primeira delas. Luís Carlos Rey lembra que essa fase da pesquisa foi devidamente autorizada pelo Ministério da Saúde e que os pais permitiram os testes.
Se tudo correr bem, até 2014 o laboratório espera submeter os resultados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e registrar o medicamento para, no ano seguinte, poder fazer a vacinação em larga escala. Para ser aprovada, a vacina deve se mostrar eficaz em pelo menos 70% dos casos.
“Todos os voluntários são monitorados semanalmente para conferirmos a eficácia clínica do medicamento. Estamos vigilantes”, observa o pesquisador brasileiro.
Os mesmos testes dessa fase, chamada estudo de segurança, são feitos em pelo menos outros dez países tropicais, onde a incidência de dengue é alta.
De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde de Campo Grande (que recebeu 500 doses da vacina desenvolvida pelo laboratório francês), Márcia Fabbro, uma equipe composta por oito médicos fica à disposição dos voluntários no Hospital Universitário da cidade, caso eles precisem de orientações ou apresentem sintomas desagradáveis.
“Só em 2010 tivemos quase 83 mil notificações da doença, sendo que 56 mil foram confirmadas. Este ano, a dengue já atingiu 14 mil pessoas e quatro morreram no Estado. A fase de testes dessa vacina é uma porta que se abre para a esperança”, disse Márcia.
O Brasil também tenta produzir uma supervacina contra a dengue. Desde 1998, o Laboratório de Infecções Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) pesquisa um medicamento a partir de material genético do vírus, com o objetivo de produzir proteínas para proteger o organismo contra a dengue.
Entre as dificuldades, e não somente para os pesquisadores brasileiros, o fato de a doença ser causada por quatro tipos de vírus, o que requer eficácia contra todos eles para que sejam evitadas complicações como a forma hemorrágica da doença, em caso de infecção reincidente.
Outro complicador é que nenhum animal, além do homem, desenvolve os sintomas da doença, o que dificulta os testes clínicos obrigatórios em animais antes de a vacina ser aprovada para uso em humanos.
A expectativa da Fiocruz, que trabalha em parceria com o laboratório Glaxo SmithKline, é colocar o medicamento no mercado em cinco anos.

Matéria extraída do site do Jornal Hoje em Dia

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